sábado, 29 de agosto de 2009
ASTRONOMIA
Astronomia
Desde os primórdios da história humana, a observação dos corpos celestes atraiu a atenção das sociedades, mesmo as mais primitivas, e influiu, como testemunham vestígios arqueológicos da pré-história, no pensamento mágico do indivíduo sobre as questões sobrenaturais de sua existência.
A sedentarização progressiva das culturas do neolítico, cujas atividades econômicas se resumiam à prática da agricultura e à criação de animais, correspondeu provavelmente ao nascimento da astronomia como a mais antiga das ciências da natureza. A necessidade de regular os cultivos exigiu um conhecimento profundo das estações do ano, razão pela qual milênios de contínua observação do firmamento levaram o homem do neolítico a descobrir os ciclos dos movimentos dos astros, reconhecidos por meio de agrupamentos chamados constelações.
A astronomia, ciência que estuda as características físicas, o movimento e a evolução dos corpos celestes, conjugou, desde sua remota e incerta origem, o rigor da observação do céu com hipóteses e superstições sobre a natureza e a criação do cosmo, freqüentemente inspiradas na mística e na teologia.
Como disciplina da física, a astronomia serviu inicialmente como estímulo para a atividade científica em áreas como a matemática e a mecânica. Posteriormente, numa interação com outros domínios da ciência, beneficiou-se dos conhecimentos progressivamente acumulados e de diversos procedimentos para elaborar, com a ajuda de suas leis específicas, teorias capazes de unificar os princípios que regem a evolução contínua do universo e de seus componentes.
Evolução do conhecimento astronômico
A pesquisa arqueológica assinala como os mais antigos centros do saber astronômico as primeiras culturas socialmente desenvolvidas que floresceram em pontos geográficos diversos, entre elas as mesopotâmicas (suméria, assíria e babilônica); as do leito do Nilo egípcio; a da porção oriental da costa mediterrânea; e as civilizações indiana, persa e chinesa. De forma provavelmente isolada, embora com muitas semelhanças, o saber astronômico de alguns povos americanos, especialmente os maias e astecas, se manifestaram na elaboração de calendários solares cujas técnicas de medição do tempo são notavelmente precisas.
Em linhas gerais, a astronomia dessas civilizações se fundamentava num rudimentar mas sólido conjunto de princípios, formulados a partir da observação do céu a olho nu, com os quais se satisfazia uma série de exigências práticas e místicas.
O método de observação celeste, aplicado inicialmente à pesquisa da Lua e do Sol, foi progressivamente aperfeiçoado a ponto de oferecer informação a respeito dos períodos ideais para a semeadura, colheita e outras atividades agrícolas relacionadas à posição de outros corpos celestes no firmamento. O mesmo aconteceu com a divisão da trajetória do Sol ao longo do ano em 12 áreas equivalentes, governadas, cada uma delas, por uma constelação. Esse procedimento deu origem ao sistema do zodíaco, que ainda hoje é útil como método de orientação.
Além de satisfazer o duplo objetivo de criar um guia de navegação e uma técnica para medir o tempo e regular os períodos agrícolas, tais sistemas resultaram, muitas vezes, no estabelecimento de sistemas cósmicos em que os corpos celestes assumiam o caráter de divindades, cujos atos interferiam na vida e no comportamento dos povos e dos indivíduos. Nasceu assim a astrologia, arte divinatória que defende a influência do cosmo sobre o destino das pessoas.
Apesar de sua inspiração mágica, o nascimento da astrologia representou uma evolução para a ciência. A afirmação da periodicidade e da regularidade do movimento cósmico pelos sábios sumérios e babilônicos fez surgir uma doutrina igualmente determinista sobre o comportamento dos homens que, numa religião claramente astrólatra como a que praticavam, levava a crer que as posições dos astros influenciavam o destino dos indivíduos.
A base da astrologia foi transmitida às sociedades gregas, que atuaram como autênticos centros de propagação de seus princípios por todo o mar Mediterrâneo, em particular para o Egito, onde a astrologia sofreu notável impulso. A herança astrológica acompanhou a astronomia durante séculos, até que as idéias racionalistas do Renascimento deram início à demarcação das fronteiras entre a astronomia e a astrologia -- interpretada a primeira como ciência, a outra como técnica divinatória.
Além da função aglutinadora do saber antigo, o pensamento da Grécia clássica legou à posteridade uma concepção estática do mundo, centrada no planeta Terra. A teoria geocêntrica foi exposta num modelo matemático pelo grego alexandrino Cláudio Ptolomeu e, afinada com os princípios metafísicos, sociais e políticos da época, foi transmitida, em conjunto, às culturas romana, árabe e cristã medieval.
A contribuição árabe para a astronomia exerceu influências mais profundas. A fusão da herança cultural indiana e da greco-romana produziu-se no saber islâmico, após a expansão árabe para o Oriente e o Ocidente, e conduziu a astronomia descritiva a um dos pontos culminantes de sua evolução. O trabalho dos sábios islâmicos orientou-se principalmente para a recompilação de textos, tabelas e catálogos, traduzidos para o árabe, o que se confirma pela origem árabe do nome de grande parte das estrelas e constelações registradas nas cartas astronômicas atuais.
A atração que os corpos celestes exerciam sobre os sábios do Islã era, de certo modo, condicionada pelos princípios religiosos que regiam a civilização árabe. Os astrônomos do Cairo, Bagdá, Damasco e, na península ibérica, Córdoba e Granada transcenderam, no entanto, o domínio da magia e do culto aos deuses para dotar seus trabalhos de uma sólida base empírica que, mais tarde, haveria de servir como suporte para o conhecimento dos astros obtido por outras culturas. O enorme trabalho de coleta de dados levado a cabo pelos sábios islâmicos tornou-se ainda mais valorizado em virtude do estancamento científico que ocorreu durante a Idade Média no Ocidente. A interpretação do cosmo segundo Aristóteles continuava ainda em plena vigência no século XIII, época em que apenas contribuições isoladas -- como as Tábuas afonsinas, do rei de Castela Afonso X o Sábio -- renovaram em parte as noções de astronomia aceitas e aprovadas pela Igreja.
Os verbetes que se referem à evolução histórica da astronomia até a Idade Média estão incluídos no quadro nº 1.
QUADRO Nº 1: HISTÓRIA DA ASTRONOMIA ATÉ A IDADE MÉDIA
O emprego de novas técnicas provocou, durante o século XVI, uma mudança radical na concepção do universo, que se concretizou numa revolução científica de proporções gigantescas. A crise, aberta com a publicação, em 1543, da teoria de Nicolau Copérnico, segundo a qual o Sol se situava no centro do universo e a Terra girava a seu redor, se encerrou um século e meio mais tarde, quando Isaac Newton enunciou os princípios da mecânica e a lei da gravitação universal.
Nesse período produziram-se algumas das mais relevantes descobertas para a história da astronomia e da ciência em geral. A revolução iniciada por Copérnico desencadeou estudos pormenorizados e sistemáticos dos corpos celestes, como os que realizou o dinamarquês Tycho Brahe, autor de descobertas fundamentais para a astronomia, como a refração da atmosfera. O enunciado das leis que regem o comportamento dos corpos celestes, no entanto, deve ser creditado a outra grande personalidade da história da astronomia, o alemão Johannes Kepler, uma das figuras mais importantes e respeitadas da ciência de seu tempo. Antes que Newton fundamentasse a astronomia experimental tal como ela é conhecida hoje, foi essencial o trabalho de Galileu Galilei, que, a partir da observação dos corpos celestes, deu à ciência uma das principais contribuições individuais de todos os tempos. Além de observar satélites e fases dos planetas, demonstrou formulações teóricas de Copérnico, o que lhe valeu a perseguição imposta pela Igreja e uma instabilidade permanente para seu trabalho de pesquisa.
As armas de que se valeram os iniciadores da revolução astronômica provinham de duas fontes principais: o progresso tecnológico, representado pelo emprego de lentes ópticas e dos primeiros telescópios para a observação do céu; e o aperfeiçoamento dos cálculos matemáticos, que abriu aos cientistas a possibilidade de utilizar uma linguagem lógica, concisa e universal para expressar suas idéias.
Com esses recursos, a astronomia experimentou um novo impulso. Seu domínio, no entanto, permanecia reduzido praticamente à investigação do sistema solar, o que permitia registrar, com notável exatidão, os movimentos do Sol, da Lua, dos planetas e de alguns cometas. O descobrimento do planeta Netuno, em meados do século XIX, comprovou a validade do princípio de Newton segundo o qual todos os movimentos planetários obedecem à lei da gravitação universal.
Em seu conjunto, os temas relacionados à astronomia clássica, que nasceu da revolução científica dos séculos XVI e XVII, são tratados nos verbetes do quadro nº 2.
QUADRO Nº 2: ASTRONOMIA CLÁSSICA
Os preceitos da astronomia clássica começaram a cair por terra com a evolução dos instrumentos de observação. Durante os primeiros anos do século XX, o surgimento de novas teorias físicas também alterou profundamente o panorama da astronomia. A teoria quântica, por exemplo, não apenas representou a comprovação de hipóteses sobre o átomo formuladas desde o século anterior, como também permitiu demonstrar que o universo é povoado de corpos materiais e também de uma infinidade de radiações cuja natureza ainda não havia sido determinada. A teoria da relatividade reduziu a validade da física newtoniana a limites menores que os do universo. Dessa forma, os modelos e as leis que regem as relações entre os corpos celestes tornaram-se mais complexos quanto a sua concepção e formulação simbólica, o que resultou numa progressiva especialização da astronomia.
Em menos de um século, o progresso tecnológico dilatou ao infinito as fronteiras do universo. O sistema solar se tornou, aos olhos da ciência, um dos milhões de conjuntos planetários que compõem a Via- Láctea. Observaram-se inúmeras galáxias do mesmo tipo, que estão em movimento permanente e velocíssimo. Além disso, o emprego de ondas invisíveis, como as de rádio ou raios X, revelou a presença de corpos emissores de radiações não detectáveis com os telescópios ópticos normais.
As questões relativas à progressiva especialização da astronomia moderna são tratadas nos verbetes do quadro nº 3.
QUADRO Nº 3: ASTRONOMIA COMO ESPECIALIDADE AUTÔNOMA
Enfoques da astronomia
A complexidade da maioria dos modelos científicos que descrevem a situação, as propriedades e a evolução dos sistemas naturais originou, na ciência moderna, um fenômeno de duas vertentes de que a astronomia não escapa. A abundância de dados produz uma tendência à especialização, mas também uma necessidade de colaboração entre as diversas disciplinas.
Conseqüentemente, os assuntos básicos para a astronomia podem ser analisados do ponto de vista de cada uma das suas especialidades. Embora não exista uma classificação universal das disciplinas que a astronomia compreende, costumam ressaltar-se duas funções: uma descritiva, a que obedecem todos os critérios de determinação de posições e movimentos reais ou aparentes dos corpos celestes; e uma dinâmica, representada pelas pesquisas orientadas para descobrir as causas do comportamento desses corpos e tirar conclusões a respeito.
Os verbetes que abordam as diversas disciplinas da astronomia estão incluídos no quadro nº 4.
QUADRO Nº 4: DISCIPLINAS DA ASTRONOMIA
A observação em astronomia orientou-se tradicionalmente para os aspectos descritivos, a ponto de consolidar disciplinas antigas como a cosmografia, ou uranografia, que se dedica ao reconhecimento dos astros considerando somente sua posição e algumas de suas características mais elementares; e a astrometria, ciência que estuda as particularidades do movimento dos corpos celestes.
A astrometria desempenhou papel decisivo na evolução da matemática, como no domínio da trigonometria esférica (medida de ângulos sobre a superfície da esfera), e condicionou a evolução precoce da geometria.
O conhecimento dos astros dependeu, em momentos diversos, da resposta a questões fundamentais referentes à estrutura, composição, equilíbrio e ciclo vital dos diferentes sistemas do universo. Até o século XX, no entanto, os pesquisadores não haviam obtido resultados experimentais suficientes para responder com segurança essas questões. O advento da física e da química modernas, na primeira metade do século, deu lugar a uma nova disciplina, denominada astrofísica, que aplica ao estudo dos astros as teorias mais avançadas da termodinâmica, do eletromagnetismo, da física nuclear e de partículas, da química estrutural e molecular, da mecânica estatística e da teoria das probabilidades. É precisamente no domínio da astrofísica que a astronomia moderna fez maiores progressos.
Sem bases científicas sólidas, desde sua remota origem até sua reformulação em pleno século XX, a cosmologia aproveitou os resultados da astrofísica para formular hipóteses sobre a evolução do universo. Apoiada necessariamente na filosofia e nos recursos físicos e matemáticos disponíveis, a cosmologia tornou-se assim a resposta que se buscava há milênios para o mistério da origem da matéria, sua importância e seu destino.
Os verbetes que discutem as relações entre a cosmologia e a ciência estão reunidos no quadro nº 5.
QUADRO Nº 5: CIÊNCIA E COSMOLOGIA
A astronomia moderna baseia suas principais técnicas de observação, descrição e formulação de leis na óptica, no eletromagnetismo, na mecânica e na matemática.
Durante milênios, a observação do céu se fez sem ajuda de lentes ou outros dispositivos semelhantes. Os astrólogos mesopotâmicos, os sacerdotes egípcios e os sábios chineses da antiguidade se valiam de rudimentares instrumentos de orientação baseados no fio de prumo e na direção do pólo norte. Curiosos dispositivos de medida da hora do dia em função do comprimento da sombra dos objetos e da época do ano eram alguns dos mais valiosos instrumentos astronômicos da época.
A acumulação de dados e experiências produziu uma das técnicas mais poderosas da astronomia da antiguidade, que se tornou desde então parte fundamental dessa ciência: a elaboração de calendários baseados nas fases da Lua e, mais tarde, nos movimentos do Sol, e a confecção de catálogos de estrelas e efemérides, tábuas astronômicas que permitiam calcular, com a ajuda de princípios geométricos, o movimento do Sol, da Lua, dos planetas e das estrelas.
Os astrônomos gregos, árabes e medievais contribuíram com inovações tecnológicas comparativamente pobres e se limitaram, em geral, a aperfeiçoar os instrumentos existentes e a completar os quadros traçados a partir da observação dos astros. Sua concepção do mundo se beneficiou, no entanto, do emprego de métodos científicos mais rigorosos que facilitaram a ordenação sistemática das noções astronômicas.
A era da revolução científica e tecnológica que se iniciou a partir do século XVI teve indiscutível repercussão na história da astronomia. Rápidos progressos em duas áreas da ciência decisivas para a astronomia -- a óptica e a matemática -- se fundiram para dar lugar a formidáveis descobertas.
O florentino Galileu Galilei apontou pela primeira vez um telescópio na direção da Lua e dos planetas e contemplou um universo novo, imensamente mais rico do que poderia supor com base na observação de seus precursores. Essa extensão da visão em direção ao infinito produziu um enorme volume de dados e descobertas. Com o passar dos anos, surgiram novos observatórios, dotados de telescópios e instrumentos ópticos para observação e medição, que concluíram uma exploração visual superficial do sistema solar.
As técnicas utilizadas nos estágios iniciais da astronomia estão tratadas nos verbetes do quadro nº 6.
QUADRO Nº 6: TÉCNICAS DA ASTRONOMIA CLÁSSICA
A luz se tornou, dessa forma, um dos principais aliados do astrônomo, capaz de determinar, em função das alterações luminosas e das leis da óptica, um sistema mecânico de ordenação dos astros satisfatório para as necessidades da época. A missão dos pesquisadores consistiu então em abrir os olhos da ciência para o mundo do invisível, escondido por trás dos átomos e das ondas eletromagnéticas.
Após um longo período como eixo em torno do qual se produziu a evolução da ciência, a astronomia passou a colher de outras disciplinas recursos para seu próprio progresso. Com a ajuda da espectroscopia, por exemplo, foi possível determinar a composição e a temperatura dos corpos celestes, por meio da análise dos desenhos de linhas espectrais registrados pelo fenômeno de emissão e absorção de radiações.
No século XX, o homem ultrapassou, com as novas técnicas astronômicas, as limitações impostas por sua própria capacidade e seus sentidos. Os equipamentos artificiais substituíram definitivamente os recursos humanos nos observatórios, convertidos em complexas obras de engenharia eletrônica. O resultado imediato dessa mudança de metodologia foi a descoberta das radiofontes e a conseqüente reorientação do trabalho dos centros de observação para detecção desses corpos. Surgiram assim os radiotelescópios que, com seu desenho em forma de antena parabólica, se distanciam bastante do aspecto tradicional dos equipamentos de observação celeste.
Atualmente, os observatórios utilizam uma variada gama de dispositivos eletrônicos de detecção, acompanhados de métodos de coleta e processamento de dados por meio de sistemas altamente informatizados. Os telescópios, tanto ópticos como de rádio, são dotados de sistemas automáticos de acompanhamento dos astros. A intervenção humana é voltada preferentemente para o controle do bom funcionamento desses centros e para o estudo dos resultados obtidos.
A esse conjunto de procedimentos acrescentou-se, a partir da década de 1950, a contribuição das técnicas fornecidas pelas naves espaciais. Essas sondas, dotadas de delicados instrumentos de medição, resumem o estado atual de fusão entre os aspectos científico e tecnológico da astronomia moderna.
Os verbetes que tratam de temas relativos às técnicas da astronomia moderna estão relacionados no quadro nº 7.
QUADRO Nº 7: TÉCNICAS DA ASTRONOMIA MODERNA
A idéia geralmente aceita pela cosmologia contemporânea a respeito da estrutura do universo é absolutamente diferente das noções que dela tinham mesmo os astrônomos mais ousados do século XIX. Os novos conhecimentos incorporados no decorrer do século XX, resultantes de extraordinárias inovações tecnológicas, fez surgir ante os olhos da ciência regiões do espaço que até pouco tempo antes eram desconhecidas. Paralelamente, com a missão de decifrar os mistérios dessas novas descobertas, formavam-se equipes de estudo especializadas.
Em conseqüência disso, os limites da astronomia se ampliaram de forma irreversível durante as últimas décadas do século XX. A observação das regiões próximas da Terra, isto é, o sistema solar, tornou-se extraordinariamente minuciosa. Superadas as fronteiras daquele sistema, as pesquisas se fixaram nos inumeráveis elementos da galáxia que o abriga, e as pesquisas se estenderam a novas galáxias, situadas a imensas distâncias, em busca das fronteiras do cosmo e de sua origem -- o que corresponde à suposição geral de que os objetos mais distantes devem proceder das primeiras etapas de formação do universo.
O estudo e a contemplação do sistema solar sempre representaram uma parte essencial da astronomia, mas foi necessário esperar milênios para conseguir interpretar corretamente a posição e as características dos astros. O conhecimento da estrutura do sistema solar, objeto de exaustivas observações a partir de estações terrestres e de sondas em viagens interplanetárias, pode ser considerado profundo se comparado com o adquirido em épocas anteriores. As naves espaciais fotografaram planetas e satélites e colheram amostras da atmosfera e da superfície dos corpos celestes sobre os quais puderam pousar.
De modo geral, o sistema solar pode ser definido como um conjunto de corpos celestes que se atraem reciprocamente por forças gravitacionais, que giram em torno de uma estrela, o Sol, que concentra a maior porção de matéria do conjunto e é capaz de gerar energia e luz própria.
De acordo com a maior ou menor proximidade do Sol, os planetas do sistema solar se classificam, de modo geral, em interiores e exteriores. Enquadram-se no primeiro grupo quatro planetas maiores, que em ordem de proximidade do Sol são Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, e um cinturão composto de centenas de planetas menores chamados asteróides. Esse cinturão delimita a fronteira com os planetas exteriores, os planetas gigantes -- Júpiter, Saturno, Urano e Netuno -- e um pequeno planeta, Plutão, o menos explorado de todos devido a seu afastamento da Terra e pelo fato de ter sido descoberto muito mais recentemente. Com ajuda de um telescópio óptico é possível observar que, na maioria dos casos, cada um desses planetas é centro de um complicado sistema de gravitação, composto de vários astros menores que estão em movimento permanente a seu redor. Mercúrio, Vênus e Plutão não possuem satélites conhecidos, e a Terra é o único planeta com apenas um satélite. Júpiter e Saturno, ao contrário, são rodeados por vários satélites de tamanhos diversos e se assemelham a sistemas solares em escala reduzida.
Outros componentes do sistema solar que sempre estimularam a imaginação humana são os cometas, astros pequenos, de trajetória hiperbólica, que deixam um rastro luminoso cada vez mais visível à medida que eles se aproximam do Sol. Mensageiros do destino que, segundo a crença popular, pressagiavam grandes acontecimentos sociais e políticos, os cometas são importantes do ponto de vista astronômico porque seriam, conforme algumas teorias, os vestígios mais remotos do período de formação do sistema solar. Segundo essas teorias, a formação do sistema solar teria ocorrido a partir da condensação de partículas de material interestelar num núcleo brilhante, do qual se originou o Sol, e de deformações da massa fluida, sob a forma de coágulos, de que teriam surgido os outros componentes.
Completam o conjunto de componentes desse sistema o pó e o gás interplanetário, as radiações de diversos tipos que ocupam o vazio existente entre os planetas, os fenômenos de radiação solar e os meteoritos -- fragmentos de rocha que em sua maioria procedem da desagregação de asteróides, cujos efeitos de bombardeio se fazem notar nas crateras dos planetas e satélites do sistema solar interior.
O progresso da astronáutica chegou ao ponto de empreender, com a ajuda das naves espaciais, a busca de novas áreas para o assentamento de grupos humanos. Embora não tenham sido descobertas condições ambientais que permitam a existência de vida, abriram-se no entanto novas possibilidades de aproveitamento dos recursos naturais do sistema.
As características dos diferentes corpos celestes do sistema solar são tratadas nos verbetes enumerados no quadro nº 8.
QUADRO Nº 8: SISTEMA SOLAR
A posição do sistema solar no universo não é estratégica, como acreditavam as doutrinas geocêntricas e heliocêntricas de séculos atrás. Longe de constituir o centro do cosmo, o Sol é apenas mais uma estrela, localizada na periferia da Via Láctea, que, segundo estimativas da astrofísica, abriga cerca de cem bilhões de estrelas, muitas das quais presumivelmente também são centros de sistemas planetários. Essa incomensurável quantidade de astros se comporta, em grande escala, como um conjunto indivisível que, apesar da enorme diversidade interna, apresenta uma evolução comum.
A estrela mais próxima do sistema solar dentro da galáxia situa-se a quatro anos-luz de distância. Como parâmetro, considere-se que a Terra está a cerca de oito minutos-luz do Sol. Na Via Láctea, os corpos estelares se distribuem ao longo de uma faixa espiralada, com cerca de cem mil anos-luz de diâmetro e mil de espessura. O acúmulo máximo de matéria está localizado num disco central arredondado. Num dos braços da espiral, o Sol e os corpos que em torno dele gravitam executam um movimento de translação ao redor do núcleo galáctico, em direção a um ponto denominado ápex.
A imensa maioria dos focos de luz vistos no firmamento correspondem a estrelas da Via Láctea, nome que se deve à aparência leitosa de sua área de maior densidade de radiação. Especializada sobretudo em dinâmica estelar, a astrofísica analisa os corpos que compõem a Via Láctea e elabora catálogos sobre a rica variedade de estrelas, em função de determinadas propriedades, especialmente luminosidade, cor, temperatura e características das linhas de sua faixa espectroscópica.
Segundo a astrofísica, as estrelas apresentam um ciclo evolutivo que se inicia no nascimento, a partir de nuvens incandescentes de gás interestelar, passa por uma etapa de maturidade e termina com seu desaparecimento. Esse processo de evolução consome até o esgotamento a energia liberada pela fusão nuclear dos átomos leves que compõem a estrela -- hidrogênio e hélio, principalmente.
Os verbetes que descrevem as características da Via Láctea e de suas estrelas, ou tratam de assuntos correlatos, estão incluídos no quadro nº 9.
QUADRO Nº 9: A VIA LÁCTEA E SUAS ESTRELAS
Ao esgotar o combustível nuclear que sustentava seu equilíbrio interno, as estrelas chegam ao fim de seu ciclo evolutivo, contraem-se e explodem violentamente para dar origem a objetos que, desde sua descoberta, desafiaram as predições dos cientistas. Esse fenômeno de ejeção cataclísmica de matéria no espaço cósmico, designado pelo nome de supernova, foi identificado em referências históricas dos séculos XV e XVI.
Provavelmente resultantes da explosão de supernovas, os pulsares são fontes emissoras de radiações eletromagnéticas na freqüência das ondas de rádio, com um pulso marcadamente regular. O feixe de radiação é emitido por uma massa compacta de nêutrons, que, ao girar a velocidades extraordinárias, lança as ondas eletromagnéticas na direção de seu eixo polar como os fachos de luz de um farol.
Também se atribui origem estelar a corpos que exercem um excepcional fascínio sobre os astrônomos: os buracos negros, cuja existência foi confirmada apenas na última década do século XX. Amplas regiões escuras situadas geralmente no centro de aglomerados de estrelas, ou de conjuntos de astros atraídos por forças gravitacionais, os buracos negros não refletem a luz e absorvem, como grandes aspiradores, toda a matéria e radiação que deles se aproxima. Originam-se da explosão de estrelas com massa superior a um valor crítico. As estrelas de massa inferior, após explodirem, tornam-se cinza estelar na forma de astros de pequenas dimensões, chamados anãs brancas.
São ainda objeto de estudo da astronomia e, em particular, da astrofísica, o material e o gás interestelar; a estrutura, a categoria e a disposição dos aglomerados estelares; os corpos pouco conhecidos, como as estrelas de nêutrons e de raios X; e a estrutura do centro da Via Láctea, inacessível aos equipamentos astronômicos por causa da densa radiação que o cerca.
Ao se detectar experimentalmente a existência de corpos extragalácticos, durante a primeira metade do século XX, abriu-se uma nova série de possibilidades para a astronomia. Os cientistas descobriram que a Via Láctea é apenas um dos componentes de um aglomerado de galáxias muito próximas, denominado Grupo Local, que também é mais um exemplar dos inumeráveis agrupamentos desse tipo espalhados pelo universo.
Além de observar e catalogar os diferentes tipos de galáxias, suas distâncias e dados cinéticos relativos, a astronomia extragaláctica busca alcançar, por meio de uma conexão com a cosmologia, a idéia exata sobre a forma e as dimensões do cosmo. Descobriram-se assim objetos de brilho extraordinário que foram chamados quasares, cuja localização exata ainda é motivo de controvérsias.
Os verbetes que mencionam questões relacionadas à astrofísica galáctica e extragaláctica e seus aspectos cosmológicos estão relacionados no quadro nº 10.
QUADRO Nº 10: ASTROFÍSICA GALÁCTICA E EXTRAGALÁCTICA
A diversidade de objetos, enfoques e ambientes de pesquisa exige que a astronomia moderna selecione com muito critério as informações que recolhe, e que submeta os dados obtidos a um trabalho de reflexão e interação com as demais disciplinas científicas.
A grande quantidade de perguntas sem resposta sobre a origem, formação e evolução do universo, e a importância que a solução dessas incógnitas tem para um melhor conhecimento da constituição e evolução do nosso planeta como parte do universo, fazem confluir para essa tarefa os esforços reunidos das mais diversas ciências.
O trabalho conjunto de todas as ciências resulta na elaboração de um quadro cada vez mais completo e preciso sobre os acontecimentos que ocorreram desde os primeiros tempos do universo e permite formular hipóteses científicas sobre os acontecimentos que devem determinar as transformações futuras. Esses fatos estão registrados numa concepção cronológica medida em milhares de anos, da qual a história conhecida pelo homem não representa, portanto, mais do que uma minúscula parte.
A idéia, hoje comumente aceita, segundo a qual todos os planetas e galáxias têm uma origem comum, a partir da qual definiram-se as características próprias a cada um deles, ou aos conjuntos e agrupamentos por eles formados, é uma das hipóteses mais fascinantes da ciência atual. A partir desse simples axioma é possível formular múltiplas teorias por meio das quais serão estabelecidas as relações entre os planetas.
Num estágio mais avançado do que essa simples busca de semelhanças, nada impede que as hipóteses cientificamente analisadas para um minúsculo sistema planetário se estendam a outros. Determinadas assim as forças físicas que controlam a atração entre os planetas, as radiações daqueles que liberam grandes quantidades de energia, a decomposição de outros menores e a própria composição dessas radiações, é possível estender as hipóteses já formuladas para outros conjuntos planetários muito distantes. À medida que se vai avançando nessas pesquisas, o universo se torna cada vez menos obscuro.
O homem adota progressivamente uma posição que denota maior confiança e familiaridade com relação ao cosmo. Uma vez iniciada a exploração do espaço, os métodos de pesquisa da astronomia responderão ao desafio de desvendar os últimos segredos do universo e da natureza.
BIBLIOGRAFIA
Hawking, S. W. Uma breve história do tempo. Rio de Janeiro, Rocco, 1988. Buracos-negros, universos-bebês e outros ensaios. Rio de Janeiro, Rocco, 1994. Revisão das grandes teorias do cosmo e pesquisas sobre os buracos-negros, corpos celestes que oferecem a chave para a compreensão do universo e suas origens. Explicam a teoria geral da relatividade e a mecânica quântica.
Marchand, P., organizador. O céu e seus mistérios. São Paulo, Melhoramentos, 1994. Livro infantil da coleção Origens do Saber, para olhar, ler, manipular e transformar. Com adesivos, mapa giratório do céu e um astrolábio, desvenda segredos das galáxias e do nascimento e morte das estrelas.
Longair, M. S. As origens do nosso universo. Rio de Janeiro, Zahar, 1995. O autor, astrônomo do Observatório Real de Edimburgo, na Escócia, discorre sobre a origem e a evolução dos planetas e das galáxias.
Davies, P. Os três últimos minutos: conjeturas sobre o destino final do universo. Rio de Janeiro, Rocco, 1995. Livro da coleção Mestres da Ciência. A tese da "noite perpétua", decorrente de uma monumental implosão que levaria aao fim do universo, desenvolvida pelo professor de filosofia da Universidade de Adelaide, na Austrália. Inspirada na obra Os três primeiros minutos, de Steven Weinberg, que revolucionou a divulgação científica.
Barrow, J. Origens do universo. Rio de Janeiro, Rocco, 1995. Livro da coleção Mestres da Ciência. Professor de astronomia da Universidade de Sussex, Barrow se detém na curiosa coincidência teórica entre o mundo das galáxias e o mundo das partículas da matéria.
Harrison, E. A escuridão da noite: um enigma do universo. Rio de Janeiro, Zahar, 1995. Harrison discute a teoria do big bang, explosão que teria dado origem ao universo, com base na observação das estrelas.
Mourão, R. R. F. Dicionário enciclopédico de astronomia e astronáutica. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1996. Obra de consulta de um dos mais renomados astrônomos brasileiros, diretor e um dos fundadores do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no Rio de Janeiro. Contém 25.000 verbetes com termos de astronomia e astronáutica, além de referências a ciências afins: astrofísica, cosmologia, meteorologia e geofísica, além de verbetes biográficos de grandes cientistas nessas áreas. Ilustrada
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Retira da compilação exposta no site : http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?cod=1392
Antes de existir a astronomia so havia a astrologia e tudo era uma coisa só mas movimentos racionalistas provocaram a divisão.
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